segunda-feira, 2 de maio de 2016

Exercício 013 - Quem é Jesus para se declarar Jesus?


Por Jânsen Leiros Jr


"14 Então, Jesus retornou para a Galiléia, no poder do Espírito, e por toda aquela região se espalhou sua fama. 15 Ensinava nas sinagogas e, de todos, recebia manifestações de grande apreciação.
16 Jesus viajou para Nazaré, onde havia sido criado e conforme seu costume, num dia de sábado, entrou na sinagoga. E posicionou-se em pé para fazer a leitura. 17 Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías. Desenrolando-o achou o lugar onde está escrito:
18 “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para pregar o Evangelho aos pobres. Ele me enviou para proclamar a libertação dos aprisionados e a recuperação da vista aos cegos; para restituir a liberdade aos oprimidos,
19 e promulgar a época da graça do Senhor”. 20 Em seguida, enrolou novamente o livro, devolveu-o ao assistente e assentou-se. E na sinagoga todos estavam com os olhos fixos em sua pessoa. 21 Então Ele começou a pregar-lhes: “Hoje se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir”. 22 E todos exclamavam maravilhas sobre Ele, e estavam admirados com as palavras de graça que saíam dos seus lábios. Mas questionavam entre si: “Não é este o filho de José?” 23 No entanto, Jesus lhes replicou: “Com toda a certeza citareis a mim o conhecido provérbio: ‘Médico, cura-te a ti mesmo! Faze aqui em tua terra o que soubemos que fizeste em Cafarnaum’”. 24 E continuou a falar Jesus: “Realmente vos afirmo: Nenhum profeta é bem recebido em sua própria terra. 25 No tempo de Elias, posso lhes afirmar com certeza, que havia muitas viúvas em Israel, quando o céu foi fechado por três anos e meio, e grande fome ocorreu em toda a terra. 26 Contudo, Elias não foi mandado a nenhuma delas, senão somente a uma viúva de Sarepta, na região de Sidom. 27 Assim também, no tempo do profeta Eliseu, havia muitos leprosos em Israel, mas nenhum deles foi purificado, a não ser Naamã, o sírio”. 28 Então, todos os que estavam na sinagoga foram tomados de grande raiva ao ouvirem tais palavras. 29 E, levantando-se, expulsaram a Jesus da cidade, levando-o até o topo da colina sobre a qual a cidade havia sido edificada, com o propósito de jogá-lo de lá, precipício abaixo. 30 Todavia, Jesus passou por entre eles, e seguiu seu caminho.”
Lucas 4:14-30 - KJA

Após um tempo de jejum e oração, Jesus retorna ao convívio dos seus, realizando milagres e prodígios que impressionavam a multidão. Mas é importante observar que a fama de Jesus não se restringia às maravilhas que operava. Ele ensinava nas sinagogas, como era seu costume, e o seu ensino maravilhava a todos, de modo a provocar neles grande admiração. O casamento ideal entre teoria e prática?

Jesus então decide ir até a cidade onde foi criado, para ali também ensinar aquilo que vinha apregoando nas sinagogas da Galiléia por onde passara. É importante ressaltar que o texto afirma ser esse um costume de Jesus. Ou seja, ele cumpria o roteiro religioso padrão daquela sociedade, ainda que não estivesse preso àquilo que claramente se apresentasse como mero rito de aparência ou pietismo frívolo, questões que veremos mais adiante.

De qualquer forma, a ressalva se faz pertinente, uma vez que há muitos que acreditam que a igreja local instituída é desnecessária, uma vez que Deus não habita em templos feitos por mãos humanas[1], utilizando-se esse do próprio texto bíblico. Sim, é verdade, Deus não habita nos templos ou prédios erguidos e nomeados como igreja. Mas também é verdade que Deus habita no meio dos louvores, e que onde dois ou mais estiverem reunidos em seu nome ele ali estará[2]. Ora, se nós temos um local onde podemos nos congregar e livremente adorar e louvar a Deus, e se nesses lugares nos encontramos com Ele como igreja reunida, por que haveríamos de dispensar tais facilidades que o Senhor nos concedeu para nosso exercício de fé, amor e comunhão? Não há tantos no mundo que não podem usufruir desse privilégio? Recebamos tal benefício com gratidão e louvor.

Há contudo um fato extremamente revelador nesse texto, e está diretamente ligado às tentações pelas quais Jesus acabara de passar no deserto. Naqueles dias, faminto e debilitado, o diabo o tentou com a dúvida de ser ele ou não o Filho de Deus, sugerindo que ele duvidasse do que o próprio Deus havia testemunhado dele quando do batismo; Esse é o meu filho amado em quem me comprazo. Se és mesmo o filho de Deus... Já na sinagoga de Nazaré, nenhuma dúvida havia. Muito pelo contrário. Fortalecido por sua extrema comunhão com Deus, e pleno do poder do Espírito Santo, Jesus lê o texto de Isaías e o dá por realizado. Ali estava o cumprimento da profecia em pessoa.

O mais interessante é que a revolta dos presentes naquela sinagoga, não se dá imediatamente pelo que Jesus acabara de afirmar. Na verdade, na sequência de sua afirmação ele segue lhes ensinando, e esse seu ensino lhes causa igualmente admiração, a ponto deles exclamarem maravilhas a seu respeito. A confusão inicia quando sua origem presumidamente conhecida é questionada. Aquele não poderia ser o Messias aguardado de quem falava o texto lido. Afinal, aquele Jesus era o filho de José, o carpinteiro. Eles deviam lembrar-se dele menino adolescente, brincado pela aldeia, vivendo como uma criança comum daquela época. Não era um palaciano e nem mesmo tinha conhecida linhagem real, como deveria ter o Messias. Como pode reivindicar ser quem diz que é? Deviam pensar aqueles homens presentes na sinagoga. Afinal, poderia alguma coisa boa sair de Nazaré?

Mas há ainda outro agravante. Eles devem ter imediatamente condicionado em seus corações, que a exemplo do mote presente na tentação do deserto, se Jesus operasse qualquer prodígio digno de admiração e assombro, eles poderiam crer ser ele o Messias de Deus. E da mesma forma que Jesus respondeu ao diabo citando as escrituras como sustentação contra a tentação, Jesus também os confronta duplamente. Sim, porque não só lhes afirma que não fará qualquer milagre para se credenciar, como dá dois exemplos de milagres de Deus feitos em favor de gentios, o que de certa forma os ofendia como preteridos por Deus em favor de terceiros; exata condição de suas incredulidades.

Diante daquela resposta, os nazarenos enfureceram-se e plenos de ódio e rancor, pretenderam jogar Jesus do precipício. Foi-lhes um golpe duro, a confrontação de que a incredulidade deles os faria perder a possibilidade de ver a mão de Deus atuando em seu favor. Na prática, não são muitos os que barganham com Jesus suas crenças, condicionando-as a milagres, favores ou vantagens? Ainda que se maravilhem com seus ensinos, eles são pouco para lhes satisfazer, pois ouvem mas nunca aprendem. Muitos são os que contrariados tentam se livrar de Jesus em suas vidas. Duvidam de seu poder e rejeitam seu amor.




[1]  Atos 17:24
[2]  Mateus 18:20