Por
Jânsen Leiros Jr
"1 Pleno do Espírito Santo,
retornou Jesus do Jordão e foi conduzido pelo Espírito ao deserto, 2 onde enfrentou as
tentações do Diabo por quarenta dias. Durante todos esses dias não comeu
nada e, ao fim desse período, estava faminto. 3 Indagou-lhe, então, o Diabo: “Se tu és o Filho de Deus,
ordena que esta pedra se transforme em pão”. 4 Mas Jesus lhe contestou: “Está escrito: ‘Nem só de pão
viverá o ser humano’”.
5 Então o Diabo o levou a
um lugar muito alto e lhe mostrou, em uma fração de tempo, todos os reinos do
mundo. 6 E lhe propôs: “Eu te
darei todo o poder sobre eles e toda a glória destes reinos, porque me foram
entregues e tenho autoridade para doá-los a quem bem entender. 7 Portanto, se prostrado
me adorares, tudo isso será teu!” 8 Contudo Jesus lhe afirmou: “Está escrito: ‘Ao Senhor teu
Deus adorarás e só a Ele darás culto’”.
9 Em seguida o Diabo o
levou para Jerusalém, e o colocou sobre a parte mais alta do templo e o
desafiou: “Se tu és o Filho de Deus, lança-te daqui para baixo. 10 Pois, como está escrito:
‘Aos seus anjos ordenará a teu respeito, para que te protejam; 11 eles te sustentarão
sobre suas mãos para que não batas com teu pé contra alguma pedra’”. 12 Repreendeu-lhe Jesus:
“Dito está! ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’”.
13 E assim, tendo concluído
todo o tipo de tentação, o Diabo afastou-se dele até o tempo oportuno.”
Lucas 4:1-13 - KJA
Já dissemos anteriormente que o
batismo, a genealogia e a tentação de Jesus formam um conjunto que marca o início
do seu ministério. Falamos que o seu batismo apresenta o testemunho de Deus
sobre quem é Jesus e a evidente unção que está sobre ele. Também falamos
que a citação de sua genealogia o confirma humano, uma vez que declara sua ascendência
familiar. O episódio da tentação, contudo, traz a contundente e importante revelação
de que a Jesus tem plena convicção de quem é e do papel de desempenhará na
redenção da humanidade. Isso se confirmará na sequência do capítulo quatro, quando
ele mesmo afirmará isso na sinagoga de Nazaré ao ler o texto de Isaías.
Isolando a tentação nesse exercício, ainda
que não pretendamos ser tão específicos, podemos e até devemos fazer algumas
perguntas preliminares, que certamente poderão ajudar-nos na compreensão do
contexto dessas três tentações na narrativa de Lucas, deixando de lado, num
primeiro momento, o fato de também terem sido incluídas nas narrativas de
Mateus e de Marcos, ainda que em uma ordenação diferente.
Uma primeira e inevitável pergunta
seria por quê? Ou seja, qual motivo teria
levado os evangelistas a isolarem um momento específico de tentação, uma vez
que, a exemplo do que passamos em nossas vidas cotidianas, as tentações ocorrem
todo o tempo em que estamos conscientes? Melhor. Tendo Jesus estado sozinho no
deserto, ele mesmo deve ter contado o ocorrido a seus discípulos e pontuado
essas três tentações especificamente. E por que essas três e não quatro ou
duas? Aliás, poderíamos começar com uma pergunta ainda mais primordial: Por que
Jesus precisou ser tentado? Houve algum divino propósito nisso? Chega de
perguntas, vamos ao exercício.
Antes de mais nada é preciso ressaltar
que Lucas tem em mente confirmar que Jesus é o Filho de Deus. Desde o seu
nascimento, passando por sua adolescência e batismo, ele apresenta amplo e
variado testemunho disso. E era importante que ficasse claro para o destinatário
de seu evangelho, que tudo que este iria ler à frente, seria uma narrativa dos discursos
e feitos realizados por quem tinha autoridade para realizar e dizer tudo o que
seria apresentado.
Notem que Jesus é conduzido ao deserto
não por acaso, mas impelido pelo Espírito de Deus. Portanto o deserto foi
propositalmente incluído como momento de preparação para o fortalecimento de
Jesus como ungido de Deus. Pode soar estranho para alguns, mas Jesus é nosso
exemplo em tudo, e o é também no que se refere a preparação para uma missão. Aliás,
deserto sempre está ligado a preparação por todo o texto bíblico. Mas existia
um detalhe a mais; Jesus precisava agir na contramão de Adão.
Se voltarmos a narrativa ao instante
imediatamente seguinte ao batismo, onde uma voz do céu testifica que Jesus é o Filho de Deus em quem Ele se
compraz, perceberemos que durante a tentação Jesus será instigado a duvidar
disso, auto-afirmando-se com atitudes que acabariam por denunciar sua dúvida; se tu és o Filho de Deus... Tal dúvida não
recairia propriamente sobre o que ele era, mas principalmente sobre o que Deus
havia afirmado sobre ele, Jesus. Ou seja, o diabo esperava que Jesus duvida-se de Deus, a exemplo do que fizera com Eva
e com Adão no Éden; certamente não morrereis[1].
Sendo
assim, como por meio da desobediência de um só homem muitos se tornaram
pecadores, assim também, por intermédio da obediência de um único homem, muitos
serão feitos justos[2].
Ora, a obediência de Jesus inaugura e legitima seu ministério. Não que esse
tenha sido seu único ato de obediência, uma vez que tal obediência se estendeu
por toda sua vida até a cruz. Mas no deserto, diante da tentação direta, Jesus
demonstra sua disposição de cumprir o resgate da humanidade, sendo em tudo obediente
a Deus.
Quanto as tentações, são descritas apenas
três que irão representar os impulsos pertinentes ao ser humano que, na busca
de satisfazê-los, desprezam sem pestanejar a instrução de Deus. Jesus então é
confrontado exatamente nesses três aspectos; o sustento do corpo, o sentido da
vida, e a vaidade da alma. É provável que as tentações a que se submetera o
Senhor, não tenham se restringido aos narrados, uma vez que o próprio texto se
inicia dizendo que Jesus enfrentou as
tentações do Diabo por quarenta dias, e conclui afirmando que Jesus sofrerá
todo o tipo de tentação. Porém, o mais
notável e comum às três tentações, é que em todas elas Jesus usou como resistência
e por assim dizer, segurança, o conhecimento e a convicção nas Escrituras; Está escrito.
O
Diabo afastou-se dele até o tempo oportuno. Embora os líderes
religiosos passassem todo o tempo provando Jesus em suas convicções e princípios,
tais provações não implicam em tentações, pois nelas estavam em jogo não o seu
caráter de santidade, mas suas réguas doutrinárias e o cumprimento irrestrito dos
ritos da lei e da tradição religiosa judaica. Portanto as investidas do diabo
se seguiram pontuais e decisivas, potencializando-se até a cruz.
Há quem defenda que Jesus não foi
tentado, mas tal anularia sua obediência em santidade, pois se não tiver sido
tentado, obediente também não foi; anulado estaria seu sacrifício. Ora, Jesus resistiu
a tudo por obediência, e tendo-nos amado, amou-nos
até o fim[3].
Em tudo sendo obediente até a morte, e morte
de cruz[4].
Sua determinação em nos resgatar expressa seu amor por nós de um jeito inquestionável,
pois resistindo a toda sorte de reais tentações, derrotou o pecado e a morte, nos
transportando para o reino de Deus.
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