quarta-feira, 9 de março de 2016

Exercício 010 - Ele e não eu


Por Jânsen Leiros Jr


"15 Ora, estando o povo em expectativa e arrazoando todos em seus corações a respeito de João, se porventura seria ele o Cristo, 16 respondeu João a todos, dizendo: Eu, na verdade, vos batizo em água, mas vem aquele que é mais poderoso do que eu, de quem não sou digno de desatar a correia das alparcas; ele vos batizará no Espírito Santo e em fogo. 17 A sua pá ele tem na mão para limpar bem a sua eira, e recolher o trigo ao seu celeiro; mas queimará a palha em fogo inextinguível.  
18 Assim pois, com muitas outras exortações ainda, anunciava o evangelho ao povo. 19 Mas o tetrarca Herodes, sendo repreendido por ele por causa de Herodias, mulher de seu irmão, e por todas as maldades que havia feito, 20 acrescentou a todas elas ainda esta, a de encerrar João no cárcere.  
21 Quando todo o povo fora batizado, tendo sido Jesus também batizado, e estando ele a orar, o céu se abriu; 22 e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea, como uma pomba; e ouviu-se do céu esta voz: Tu és o meu Filho amado; em ti me comprazo.”
Lucas 3:15-22 - JFA

Sendo a pregação de João tão veemente, e a expectativa por um Messias tão presente no contexto daquela sociedade, Lucas se ocupou em delinear claramente que ele, João, não era o Cristo aguardado. E ele estabeleceu essa diferença a partir do tipo de batismo que realizava, comparando com o tipo de batismo que viria a ser exercido por Jesus, esse sim o Messias esperado.

Eu, na verdade, vos batizo em água, mas vem aquele que é mais poderoso do que eu. Lucas inclui a fala do próprio João propositadamente, pois isso esclarece que não só o profeta tinha total consciência de seu papel como antecessor de Jesus, mas também evita qualquer mal entendido que supusesse que João tivesse se autodenominado Messias.

Há um outro detalhe interessante. Eu, na verdade, vos batizo em água. Essa frase denota que o próprio João esclarece o caráter meramente simbólico do ato de batizar-se, desmistificando que algo de sobrenatural acontecesse nesse ato. Isso fica claro quando ele compara o seu batismo com o batismo de Jesus, por cujo Espírito será exterminada toda a palha.

Como profeta que era, e no melhor estilo de Elias, João, além de apregoar a iminente chegada do Messias, apontava as maldades de Herodes, entre as quais relacionava a de possuir a mulher de seu irmão Filipe[1]. Motivado por essa e outras acusações, Herodes utilizou de seu poder e prendeu João, acrescentando mais essa loucura a todas as outras.

O momento do batismo de Jesus é pontuado como mais uma e determinante diferença entre ele e João. Tu és o meu Filho amado; em ti me comprazo. Não é outro o Messias senão Jesus de Nazaré. Ele é o Cristo. Ele é o redentor no mundo. Por ele vem a salvação a todos os povos. Sim, Jesus é o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo; o cordeiro sem mácula.

Mas aqui cabe uma provocação. Se o batismo de João tinha um cunho de batismo de arrependimento, porque é que Jesus se batizou? E se o batismo de João era simbólico e sem efeito sobrenatural, porque sendo Jesus batizado, sobre ele desceu o Espírito Santo, como efeito desse evento?

Ora, Não podemos esquecer que Jesus não nasceu com trinta anos. Como um judeu comum, viveu sua infância e juventude junto à sua comunidade, envolvido com tudo o que dizia respeito à vida cotidiana de sua gente. Aprendera a profissão de José de quem era sabidamente filho, como era próprio naquela sociedade. De modo que até os trinta anos Jesus tinha uma vida comum, embora fosse possível que existisse algum destaque, a exemplo do que acontecera aos treze anos, no templo em Jerusalém. Mas tanto seu dia a dia era comum, que ao falar na sinagoga em Nazaré e mesmo em outras ocasiões, os que lhe ouviram se perguntavam se não era ele aquele menino filho de José, o carpinteiro[2]. Jesus era reconhecidamente comum e igual a todos de sua idade.

Portanto, tendo Jesus uma vida comum anterior ao seu ministério, o seu batismo tem um caráter inaugurador de uma nova fase, em que suas obrigações sociais e familiares ficaram para trás. A partir daquele momento ele estaria total e exclusivamente voltado para o propósito de sua vida, direcionando para tal propósito todas as suas decisões e atitudes. Por isso o Espírito Santo desceu sobre ele, pois para dar cabo de sua missão, seria necessário estar pleno do Espírito de Deus, por meio de quem opera todos os milagres e prodígios que o distinguirá entre todos antes e depois dele.

Do seu batismo em diante, Jesus assume o protagonismo da narrativa de Lucas, não dividindo mais a cena com mais ninguém. Todos os fatos se desenrolam a partir dele e de sua centralidade, assim permanecendo mesmo depois de sua crucificação. Assim a plenitude do Espírito em Jesus é que garante o sucesso de sua missão. Ele se dá a isso e se prepara para isso. Sua entrega é total.



[1]  Marcos 6:17
[2]  Lucas 4:22; João 6:42; Marcos 6:3

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