Por Jânsen Leiros Jr
"15 Ora, estando o povo em
expectativa e arrazoando todos em seus corações a respeito de João, se porventura
seria ele o Cristo, 16 respondeu João a todos, dizendo: Eu, na verdade, vos batizo
em água, mas vem aquele que é mais poderoso do que eu, de quem não sou digno de
desatar a correia das alparcas; ele vos batizará no Espírito Santo e em fogo. 17 A sua pá ele tem na mão
para limpar bem a sua eira, e recolher o trigo ao seu celeiro; mas queimará a
palha em fogo inextinguível.
18 Assim pois, com muitas
outras exortações ainda, anunciava o evangelho ao povo. 19 Mas o tetrarca Herodes,
sendo repreendido por ele por causa de Herodias, mulher de seu irmão, e por
todas as maldades que havia feito, 20 acrescentou a todas elas ainda esta, a de encerrar João no
cárcere.
21 Quando todo o povo fora
batizado, tendo sido Jesus também batizado, e estando ele a orar, o céu se
abriu; 22 e o Espírito Santo
desceu sobre ele em forma corpórea, como uma pomba; e ouviu-se do céu esta voz:
Tu és o meu Filho amado; em ti me comprazo.”
Lucas 3:15-22 - JFA
Sendo a pregação de João tão veemente,
e a expectativa por um Messias tão presente no contexto daquela sociedade,
Lucas se ocupou em delinear claramente que ele, João, não era o Cristo
aguardado. E ele estabeleceu essa diferença a partir do tipo de batismo que
realizava, comparando com o tipo de batismo que viria a ser exercido por Jesus,
esse sim o Messias esperado.
Eu,
na verdade, vos batizo em água, mas vem aquele que é mais poderoso do que eu.
Lucas inclui a fala do próprio João propositadamente, pois isso esclarece que não
só o profeta tinha total consciência de seu papel como antecessor de Jesus, mas
também evita qualquer mal entendido que supusesse que João tivesse se autodenominado
Messias.
Há um outro detalhe interessante. Eu, na verdade, vos batizo em água. Essa
frase denota que o próprio João esclarece o caráter meramente simbólico do ato
de batizar-se, desmistificando que algo de sobrenatural acontecesse nesse ato. Isso
fica claro quando ele compara o seu batismo com o batismo de Jesus, por cujo Espírito
será exterminada toda a palha.
Como profeta que era, e no melhor
estilo de Elias, João, além de
apregoar a iminente chegada do Messias, apontava as maldades de Herodes, entre
as quais relacionava a de possuir a mulher de seu irmão Filipe[1].
Motivado por essa e outras acusações, Herodes utilizou de seu poder e prendeu
João, acrescentando mais essa loucura
a todas as outras.
O momento do batismo de Jesus é
pontuado como mais uma e determinante diferença entre ele e João. Tu és o meu Filho amado; em ti me comprazo.
Não é outro o Messias senão Jesus de Nazaré. Ele é o Cristo. Ele é o redentor
no mundo. Por ele vem a salvação a todos os povos. Sim, Jesus é o cordeiro de
Deus que tira o pecado do mundo; o cordeiro sem mácula.
Mas aqui cabe uma provocação. Se o
batismo de João tinha um cunho de batismo de arrependimento, porque é que Jesus
se batizou? E se o batismo de João era simbólico e sem efeito sobrenatural,
porque sendo Jesus batizado, sobre ele desceu o Espírito Santo, como efeito
desse evento?
Ora, Não podemos esquecer que Jesus não
nasceu com trinta anos. Como um judeu comum, viveu sua infância e juventude
junto à sua comunidade, envolvido com tudo o que dizia respeito à vida
cotidiana de sua gente. Aprendera a profissão de José de quem era sabidamente filho, como era próprio
naquela sociedade. De modo que até os trinta anos Jesus tinha uma vida comum,
embora fosse possível que existisse algum destaque, a exemplo do que acontecera
aos treze anos, no templo em Jerusalém. Mas tanto seu dia a dia era comum, que
ao falar na sinagoga em Nazaré e mesmo em outras ocasiões, os que lhe ouviram
se perguntavam se não era ele aquele menino filho de José, o carpinteiro[2].
Jesus era reconhecidamente comum e igual a todos de sua idade.
Portanto, tendo Jesus uma vida comum
anterior ao seu ministério, o seu batismo tem um caráter inaugurador de uma nova fase, em que suas obrigações sociais e
familiares ficaram para trás. A partir daquele momento ele estaria total e
exclusivamente voltado para o propósito de sua vida, direcionando para tal propósito
todas as suas decisões e atitudes. Por isso o
Espírito Santo desceu sobre ele, pois para dar cabo de sua missão, seria
necessário estar pleno do Espírito de Deus, por meio de quem opera todos os
milagres e prodígios que o distinguirá entre todos antes e depois dele.
Do seu batismo em diante, Jesus assume
o protagonismo da narrativa de Lucas, não dividindo mais a cena com mais ninguém.
Todos os fatos se desenrolam a partir dele e de sua centralidade, assim permanecendo
mesmo depois de sua crucificação. Assim a plenitude do Espírito em Jesus é que
garante o sucesso de sua missão. Ele se dá a isso e se prepara para isso. Sua
entrega é total.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por seu comentário. Logo logo será postado no blog. Sua contribuição é sempre bem-vinda.