Por
Jânsen Leiros Jr
"31 E desceu a Cafarnaum,
cidade da Galiléia, e os ensinava nos sábados. 32 E admiravam a sua doutrina porque a sua palavra era com
autoridade. 33 E estava na sinagoga um homem que tinha o espírito de um
demônio imundo, e exclamou em alta voz, 34 Dizendo: Ah! Que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste
a destruir-nos? Bem sei quem és: O Santo de Deus. 35 E Jesus o repreendeu,
dizendo: Cala-te, e sai dele. E o demônio, lançando-o por terra no meio do
povo, saiu dele sem lhe fazer mal. 36 E veio espanto sobre todos, e falavam uns com os outros,
dizendo: Que palavra é esta, que até aos espíritos imundos manda com autoridade
e poder, e eles saem? 37 E a sua fama divulgava-se por todos os lugares, em redor
daquela comarca.
38 Ora, levantando-se Jesus
da sinagoga, entrou em casa de Simão; e a sogra de Simão estava enferma com
muita febre, e rogaram-lhe por ela. 39 E, inclinando-se para ela, repreendeu a febre, e esta a
deixou. E ela, levantando-se logo, servia-os.
40 E, ao pôr do sol, todos
os que tinham enfermos de várias doenças lhos traziam; e, pondo as mãos sobre
cada um deles, os curava. 41 E também de muitos saíam demônios, clamando e dizendo: Tu
és o Cristo, o Filho de Deus. E ele, repreendendo-os, não os deixava falar,
pois sabiam que ele era o Cristo.
42 E, sendo já dia, saiu, e
foi para um lugar deserto; e a multidão o procurava, e chegou junto dele; e o
detinham, para que não se ausentasse deles. 43 Ele, porém, lhes disse: Também é necessário que eu anuncie
a outras cidades o evangelho do reino de Deus; porque para isso fui enviado. 44 E pregava nas sinagogas
da Galiléia.
Lucas 4:31-44 - KJA
O restante do capítulo 4 é uma continuação
de nosso último exercício, mas que ao mesmo tempo estabelece uma antítese de
comportamento entre aqueles que circunstanciaram Jesus nos dois cenários. Também
no trecho acima, Lucas inaugura a narrativa dos diversos milagres de Jesus,
sendo esses os primeiros de uma lista de vinte e um milagres narrados em seu
evangelho. Diferente dos judeus de Nazaré que o quiseram jogar do abismo, os de
Cafarnaum quiseram detê-lo para que de lá não saísse.
A comparação de reação entre a população
das duas regiões é inevitável. Quem ele
pensa que é disseram os de Nazaré, sentindo-se afrontados com o que
consideraram blasfemo e impossível de ser verdade. Já os de Cafarnaum, cidade
da Galiléia, região por onde Jesus já havia andado quando de seu retorno do
deserto, acataram seu messianismo, ainda que não o tenham necessariamente
entendido. Os milagres ali operados, juntamente com os exorcismos realizados,
conferiram a Jesus o reconhecimento de ser ele o Ungido do Senhor. O que
impressiona ademais, é que tal reconhecimento se dá também pelos demônios que
eram expulsos, pois lhe reconheciam a autoridade.
E por falar em autoridade, notem que
interessante. Jesus fala com autoridade, exorciza com autoridade e cura com
autoridade. Isso fica patente pelo fato de não haver qualquer evocação fora de
si mesmo, nem para falar, nem para expulsar demônios ou ainda para curar. A febre
na sogra de Pedro é repreendida com autoridade e ela logo melhora. Alguns veem
nesse texto uma sustentação para a crença de que doenças são causadas por demônios
ou espíritos imundos, uma vez que Jesus repreende
a febre. Acontece que repreensão está ligado a expulsão de demônios em nosso
contexto histórico-religioso, mas não estava assim relacionado para Lucas e
para os seus leitores. Mesmo porque, Jesus mais adiante repreenderá o vento e o
encapelado Mar da Galileia, no episódio em que a tempestade açoitava o barco em
que se encontrava. Por acaso a natureza teria sido possuída por espírito
maligno? Claro que não. Portanto repreender aqui denota autoridade; poder para
agir sobre as forças ou circunstâncias que afligem a alma e oprimem a
humanidade.
O que de certa forma Lucas encaminha
para o entendimento de seus leitores, é que desde o nascimento, Jesus veio sendo
preparando para esse momento. Para os anos de ministério que realizaria.
Concebido pelo Espírito de Deus e por ele sustentado, desde cedo Jesus se
destacara das demais crianças do seu povoado. Tendo sido batizado e deixado
assim sua vida anterior para dedicar-se totalmente à sua obra, foi tentado a
duvidar do testemunho de Deus sobre sua filiação e messianismo. E agora ele
estava sendo desprezado exatamente por aqueles a quem veio salvar, como uma
forte e inevitável motivação para que ele desistisse do que estava pronto a
fazer.
Por sua vez, e a pretexto de se manter
em comunhão com o Pai, Jesus se retirou para um lugar deserto. Ele fez isso por
muitas vezes. As narrativas dos evangelhos flagram Jesus se isolando
constantemente para orar e assim alimentar sua relação com Deus, mantendo sua
convicção de que, como cordeiro de Deus, lhe caberia passar por tudo a que se
pretendeu na eternidade; salvar a humanidade.
Por último e tão importante quanto,
Jesus diz que não pode atender os pedidos para permanecer em Cafarnaum, pois
ele precisa ir a outras regiões pregar o evangelho do Reino, porque para isso é
que fora enviado. E assim nos encerra a lição desse capítulo quatro. Convicção
e foco; um binômio a ser guardado. Convicto de que era o Filho de Deus, ele
resistiu ao diabo, não aceitou o desafio frívolo e mentiroso dos judeus de
Nazaré, e agora, apesar do reconhecimento e do apreço do povo de Cafarnaum, Ele
não perde o foco naquilo que realmente importa e define a razão de sua existência;
a salvação.
Ainda que isso lhe custasse a vida,
Jesus sabia que tinha tarefa e prazo para cumprir tal tarefa. Sabia que sua
vida tinha um propósito e a esse propósito se dedicaria empenhadamente. Mal deu
descanso ao próprio corpo e aos seus discípulos. E nós preocupados com condições
de realização dessa ou daquela tarefa para o reino. Nos aborrecendo com essa ou
aquela falta de reconhecimento. Nos magoamos por nada e nos revoltamos por
muito pouco, abandonando ou negligenciando aquilo que o Senhor espera de nós; fé
e ação.
Que tanto os maus quanto os bons nos
reconheçam servos do Deus altíssimo, e que proclamemos a salvação em Jesus com
a autoridade que nos deu para pregar, ensinar, e batizar em seu nome.
Bom treino!