segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Exercício 014 - Reconhecido por inimigos


Por Jânsen Leiros Jr


"31 E desceu a Cafarnaum, cidade da Galiléia, e os ensinava nos sábados. 32 E admiravam a sua doutrina porque a sua palavra era com autoridade. 33 E estava na sinagoga um homem que tinha o espírito de um demônio imundo, e exclamou em alta voz, 34 Dizendo: Ah! Que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste a destruir-nos? Bem sei quem és: O Santo de Deus. 35 E Jesus o repreendeu, dizendo: Cala-te, e sai dele. E o demônio, lançando-o por terra no meio do povo, saiu dele sem lhe fazer mal. 36 E veio espanto sobre todos, e falavam uns com os outros, dizendo: Que palavra é esta, que até aos espíritos imundos manda com autoridade e poder, e eles saem? 37 E a sua fama divulgava-se por todos os lugares, em redor daquela comarca.
38 Ora, levantando-se Jesus da sinagoga, entrou em casa de Simão; e a sogra de Simão estava enferma com muita febre, e rogaram-lhe por ela. 39 E, inclinando-se para ela, repreendeu a febre, e esta a deixou. E ela, levantando-se logo, servia-os.
40 E, ao pôr do sol, todos os que tinham enfermos de várias doenças lhos traziam; e, pondo as mãos sobre cada um deles, os curava. 41 E também de muitos saíam demônios, clamando e dizendo: Tu és o Cristo, o Filho de Deus. E ele, repreendendo-os, não os deixava falar, pois sabiam que ele era o Cristo.
42 E, sendo já dia, saiu, e foi para um lugar deserto; e a multidão o procurava, e chegou junto dele; e o detinham, para que não se ausentasse deles. 43 Ele, porém, lhes disse: Também é necessário que eu anuncie a outras cidades o evangelho do reino de Deus; porque para isso fui enviado. 44 E pregava nas sinagogas da Galiléia.
Lucas 4:31-44 - KJA

O restante do capítulo 4 é uma continuação de nosso último exercício, mas que ao mesmo tempo estabelece uma antítese de comportamento entre aqueles que circunstanciaram Jesus nos dois cenários. Também no trecho acima, Lucas inaugura a narrativa dos diversos milagres de Jesus, sendo esses os primeiros de uma lista de vinte e um milagres narrados em seu evangelho. Diferente dos judeus de Nazaré que o quiseram jogar do abismo, os de Cafarnaum quiseram detê-lo para que de lá não saísse.

A comparação de reação entre a população das duas regiões é inevitável. Quem ele pensa que é disseram os de Nazaré, sentindo-se afrontados com o que consideraram blasfemo e impossível de ser verdade. Já os de Cafarnaum, cidade da Galiléia, região por onde Jesus já havia andado quando de seu retorno do deserto, acataram seu messianismo, ainda que não o tenham necessariamente entendido. Os milagres ali operados, juntamente com os exorcismos realizados, conferiram a Jesus o reconhecimento de ser ele o Ungido do Senhor. O que impressiona ademais, é que tal reconhecimento se dá também pelos demônios que eram expulsos, pois lhe reconheciam a autoridade.

E por falar em autoridade, notem que interessante. Jesus fala com autoridade, exorciza com autoridade e cura com autoridade. Isso fica patente pelo fato de não haver qualquer evocação fora de si mesmo, nem para falar, nem para expulsar demônios ou ainda para curar. A febre na sogra de Pedro é repreendida com autoridade e ela logo melhora. Alguns veem nesse texto uma sustentação para a crença de que doenças são causadas por demônios ou espíritos imundos, uma vez que Jesus repreende a febre. Acontece que repreensão está ligado a expulsão de demônios em nosso contexto histórico-religioso, mas não estava assim relacionado para Lucas e para os seus leitores. Mesmo porque, Jesus mais adiante repreenderá o vento e o encapelado Mar da Galileia, no episódio em que a tempestade açoitava o barco em que se encontrava. Por acaso a natureza teria sido possuída por espírito maligno? Claro que não. Portanto repreender aqui denota autoridade; poder para agir sobre as forças ou circunstâncias que afligem a alma e oprimem a humanidade.

O que de certa forma Lucas encaminha para o entendimento de seus leitores, é que desde o nascimento, Jesus veio sendo preparando para esse momento. Para os anos de ministério que realizaria. Concebido pelo Espírito de Deus e por ele sustentado, desde cedo Jesus se destacara das demais crianças do seu povoado. Tendo sido batizado e deixado assim sua vida anterior para dedicar-se totalmente à sua obra, foi tentado a duvidar do testemunho de Deus sobre sua filiação e messianismo. E agora ele estava sendo desprezado exatamente por aqueles a quem veio salvar, como uma forte e inevitável motivação para que ele desistisse do que estava pronto a fazer.

Por sua vez, e a pretexto de se manter em comunhão com o Pai, Jesus se retirou para um lugar deserto. Ele fez isso por muitas vezes. As narrativas dos evangelhos flagram Jesus se isolando constantemente para orar e assim alimentar sua relação com Deus, mantendo sua convicção de que, como cordeiro de Deus, lhe caberia passar por tudo a que se pretendeu na eternidade; salvar a humanidade.

Por último e tão importante quanto, Jesus diz que não pode atender os pedidos para permanecer em Cafarnaum, pois ele precisa ir a outras regiões pregar o evangelho do Reino, porque para isso é que fora enviado. E assim nos encerra a lição desse capítulo quatro. Convicção e foco; um binômio a ser guardado. Convicto de que era o Filho de Deus, ele resistiu ao diabo, não aceitou o desafio frívolo e mentiroso dos judeus de Nazaré, e agora, apesar do reconhecimento e do apreço do povo de Cafarnaum, Ele não perde o foco naquilo que realmente importa e define a razão de sua existência; a salvação.

Ainda que isso lhe custasse a vida, Jesus sabia que tinha tarefa e prazo para cumprir tal tarefa. Sabia que sua vida tinha um propósito e a esse propósito se dedicaria empenhadamente. Mal deu descanso ao próprio corpo e aos seus discípulos. E nós preocupados com condições de realização dessa ou daquela tarefa para o reino. Nos aborrecendo com essa ou aquela falta de reconhecimento. Nos magoamos por nada e nos revoltamos por muito pouco, abandonando ou negligenciando aquilo que o Senhor espera de nós; fé e ação.

Que tanto os maus quanto os bons nos reconheçam servos do Deus altíssimo, e que proclamemos a salvação em Jesus com a autoridade que nos deu para pregar, ensinar, e batizar em seu nome. 

Bom treino!

2 comentários:

  1. as vezes nos revoltamos por tão pouco ,deixamos de fazer o que sabemos que se é certo fazer porque não teremos reconhecimentos.Jesus sempre fez e faz pelos seus filhos o que tem que ser feito e muitas das vezes não reconhecemos e valorizamos isso...será que realmente nos vale a pena deixar de fazermos o " certo " só pq achamos que não será reconhecido!?adoro todas as postagens ,mas essa foi uma da que mais me serviu ,pois refletir e se perguntar e uma das melhores formas de se melhorar...

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    1. Oi Luciana, que bom que foi relevante para você. Que Deus continue falando ao seu coração... Um forte abraço!!

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