segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016
Exercício 009 - Arrependei-vos! Um grito do Espírito
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016
Exercício 008 - Onde está Jesus? Alguém sabe?
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016
Exercício 7 - Pelo que tantos aguardavam?
Revisado e ampliado em 26/04/2025
Passados
quarenta dias do nascimento, seguindo o que a Lei de Moisés prescrevia para a
purificação da mãe e a consagração do primogênito (Lv 12.1-8; Ex 13.2), Maria e
José levaram Jesus a Jerusalém para apresentá-lo ao Senhor. Aquelas eram
práticas comuns entre os judeus piedosos, reafirmando não apenas a obediência
ritual, mas também a esperança messiânica que ardia no coração de Israel.
O
detalhe de que Jesus foi apresentado como primogênito é significativo: segundo
a lei, apenas o primeiro filho a "abrir a madre" da mulher deveria
ser consagrado a Deus (Êx 13.2; Nm 3.12-13). Se José já tivesse filhos de um
matrimônio anterior — como sugeririam tradições muito posteriores —, não
haveria a necessidade de apresentar Jesus como tal. A narrativa reafirma,
assim, a ausência de filhos anteriores e confirma Jesus como o legítimo
primogênito de Maria e José aos olhos da lei judaica.
Para
Maria e José, esse momento selava a consagração de seu primogênito — aquele
que, segundo a palavra do anjo, seria chamado "o Filho do Altíssimo"
(Lc 1.32). Contudo, como tantos em seu tempo, sua expectativa não ultrapassava
os limites nacionais: esperavam um rei libertador, um novo Davi que restauraria
a soberania de Israel frente às humilhações estrangeiras. A profundidade da
missão de Jesus, muito além das fronteiras de Israel, permanecia, naquele
momento, velada para eles.
Ao
entrarem no Templo, dois personagens da velha aliança se apresentam como
testemunhas do que ocorria: Simeão, homem justo e piedoso, e Ana, profetisa de
idade avançada, ambos representando a geração fiel que aguardava a redenção de
Israel.
Simeão,
movido pelo Espírito Santo, reconhece no menino a esperança prometida. Ao
tomá-lo nos braços, declara publicamente que seus olhos viram a salvação
preparada por Deus "à vista de todos os povos" (Lc 2.30-31). Este
detalhe — a salvação destinada não apenas a Israel, mas a todos os povos
— revela, já nas primeiras testemunhas, que o Messias seria infinitamente maior
do que o esperado pelas tradições nacionalistas.
Ainda
assim, a bênção de Simeão a Maria carrega uma sombra: "E uma espada
transpassará a tua própria alma" (Lc 2.35). Uma previsão sombria, que
anunciava a dor que um dia ela sofreria não apenas pela morte do filho, mas
pelo colapso de suas esperanças messiânicas imediatas.
Ana,
por sua vez, proclama a todos os presentes que aquele menino era a redenção
aguardada. Seu testemunho reforça publicamente a autenticidade da identidade
messiânica de Jesus. Com isso, o cenário está montado: o Messias é apresentado
sob o testemunho público e legítimo da velha aliança, impedindo que, no futuro,
sua missão fosse interpretada como um arranjo forjado por seguidores
tendenciosos.
Assim,
a apresentação de Jesus no Templo não é apenas o cumprimento de um ritual
religioso; é a ratificação histórica de que a nova aliança emergia das raízes
da antiga, em plena continuidade e fiel à promessa. Israel, ainda que
inconsciente de todo o plano de Deus, testemunhava o início de uma revolução
muito maior do que podia imaginar.
Embora
o Evangelho não registre em palavras, o gesto de Maria e José diz tudo: eles se
calaram diante do mistério daquele momento e, com o coração rendido, disseram
ao Senhor ‘Eis-me aqui, usa-me a mim’. Não anunciavam suas próprias vontades,
mas colocavam suas vidas à disposição do desígnio divino, conscientes de que
faziam parte de uma história muito maior do que qualquer plano humano.
Exercício
Espiritual — Reconhecer o Invisível
Meditação:
Assim como Maria e José, muitas vezes vivemos nossas tradições e práticas de
fé, sem nos darmos conta da profundidade da obra de Deus em nós. Eles
apresentaram Jesus no Templo segundo a Lei, mas ainda não conseguiam enxergar
toda a extensão da missão de seu filho. Da mesma forma, Deus também realiza
promessas em nossa história que, muitas vezes, nos parecem confusas, frustradas
ou incompletas à primeira vista.
Exame:
- Sou capaz de confiar em Deus mesmo
quando Seus caminhos me parecem ocultos?
- Minha fidelidade nasce da esperança
no cumprimento do Seu plano eterno, ou de expectativas pessoais e
imediatas?
- Como posso aprender, a exemplo de
Maria e José, a confiar no que Deus está realizando, mesmo sem ver
plenamente seus frutos agora?
Ato
espiritual proposto:
Em
oração, apresente a Deus seu coração inteiro — não para buscar a realização de
projetos pessoais, mas para reafirmar sua entrega confiante ao plano eterno de
Deus. Reconheça que Sua vontade é maior e melhor do que qualquer expectativa
humana, e disponha-se a caminhar em fidelidade, mesmo sem compreender todos os
Seus caminhos agora.
Versículo
para meditação:
"Os
meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos são os
meus caminhos, diz o Senhor." (Isaías 55.8)
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016
Exercício 6 - Rei nascido em berço de feno
Revisado e ampliado em 04/06/2024
"1 Naqueles dias saiu um decreto da parte de César Augusto, para que todo o mundo fosse recenseado. 2 Este primeiro recenseamento foi feito quando Quirínio era governador da Síria. 3 E todos iam alistar-se, cada um à sua própria cidade. 4 Subiu também José, da Galiléia, da cidade de Nazaré, à cidade de Davi, chamada Belém, porque era da casa e família de Davi, 5 a fim de alistar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. 6 Enquanto estavam ali, chegou o tempo em que ela havia de dar à luz, 7 e teve a seu filho primogênito; envolveu-o em faixas e o deitou em uma manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem.
8 Ora, havia naquela mesma
região pastores que estavam no campo, e guardavam durante as vigílias da noite
o seu rebanho. 9 E um anjo do Senhor apareceu-lhes, e a glória do Senhor os
cercou de resplendor; pelo que se encheram de grande temor. 10 O anjo, porém, lhes
disse: Não temais, porquanto vos trago novas de grande alegria que o será para
todo o povo: 11 É que vos nasceu hoje, na cidade de Davi, o Salvador, que é
Cristo, o Senhor. 12 E isto vos será por sinal: Achareis um menino envolto em faixas,
e deitado em uma manjedoura. 13 Então, de repente, apareceu junto ao anjo grande multidão
da milícia celestial, louvando a Deus e dizendo: 14 Glória a Deus nas
maiores alturas, e paz na terra entre os homens de boa vontade.
15 E logo que os anjos se
retiraram deles para o céu, diziam os pastores uns aos outros: Vamos já até
Belém, e vejamos isso que aconteceu e que o Senhor nos deu a conhecer. 16 Foram, pois, a toda a
pressa, e acharam Maria e José, e o menino deitado na manjedoura; 17 e, vendo-o, divulgaram a
palavra que acerca do menino lhes fora dita; 18 e todos os que a ouviram se admiravam do que os pastores
lhes diziam. 19 Maria, porém, guardava todas estas coisas, meditando-as em
seu coração. 20 E voltaram os pastores, glorificando e louvando a Deus por
tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes fora dito.
Lucas 2:1-20 - KJA
O
evangelho de Lucas não dá explicações como faz Mateus em seu evangelho. Ele
apenas narra. Mas se o fizesse, aqui ele diria: para que se cumprisse o que disse o profeta...[1] Sim, porque não fazendo qualquer argumentação,
Lucas inclui na narrativa o recenseamento e localiza-o na história[2],
de modo a deixar claro que o nascimento do Messias em Belém, não fazia parte de
uma suposta orquestração de fatos e
circunstâncias, que objetivasse colocar
Jesus nas condições que o referendassem à posição de Cristo, o ungido de Deus.
A viagem de José e Maria à Belém obedeceu a um decreto imperial romano. Nascer
o Messias em Belém era o cumprimento de uma profecia, mas não foi calculado por
José e Maria.
Com
todo o avanço tecnológico que vivenciamos em nossos dias, fica mesmo difícil
imaginar a difícil e trabalhosa logística, tanto para promover um recenseamento
desse porte, bem como para atendê-lo. Comparecer à sua cidade de origem,
levando pessoas, pertences e eventuais documentos que pudessem atestar a
veracidade da naturalidade declarada, não devia ser uma tarefa fácil nem mesmo
para quem estivesse na mais perfeita condição para empreender uma viagem.
Quanto mais para aquele casal. Se Maria chegou à região no tempo de dar à luz,
não só a viagem de Nazaré a Belém demorou mais que o normal, como essa mesma
viagem iniciou-se com Maria avançada no tempo de sua gestação. A distância de
pouco mais de 120 quilômetros entre uma cidade e outra, seria facilmente
percorrida nos dias de hoje. De carro, em aproximadamente 2 horas. Todavia o
caminho era montanhoso e José provavelmente precisou tomar todo o cuidado com
sua mulher[3].
O
afluxo de pessoas para a região não devia ser pequeno. Além disso, como Belém
não era uma cidade de destaque, era mesmo provável não haver qualquer estrutura
para receber tanta gente de uma hora para a outra. Causas combinadas, não seria
de se estranhar que muitos daqueles viajantes não encontrassem lugar para se
estalarem razoavelmente. Lucas não registra que o casal chegou no dia em que
Maria deu à luz, mas diz apenas enquanto
estavam ali, dando muito mais a entender que já havia transcorrido algum
tempo entre a chegada deles e o nascimento de Jesus, dando-nos indícios de que
o casal acomodou-se precariamente, entre o instante da chegada e o nascimento
do menino.
Não havia lugar para eles na
estalagem. Obviamente José não queria que seu filho
nascesse na rua. Deve ter procurado um lugar minimamente apropriado para que
recebessem o menino. Provavelmente ele argumentou, com quem os podia acolher, o
estado de sua mulher e a iminência do parto. Mas fica claro que a dureza do
coração daqueles demais viajantes, não permitiu que Maria pudesse ter seu filho
em melhores condições. Então o casal foi parar na estrebaria. Nascido, Jesus
foi posto numa manjedoura, que para quem não sabe, é o recipiente onde se
colocava a comida para os animais. Mais conhecido no Brasil como comedouro.
É
de se imaginar que toda aquela circunstância pesasse no coração de Maria e de
José. Afinal, lhes haviam dito que o menino seria um rei. O Rei de Israel. E na contramão disso, ele
nasce numa estrebaria, tendo um comedouro como berço, e envolvido em faixas
improvisadas. Uma bela estreia para quem viria a ser rei. Embora felizes com
seu nascimento, os pais de Jesus deviam estar com uma grande e inquietante
dúvida no coração. Não deveria o futuro rei nascer em um palácio? Aquela
estrebaria estava longe de ser uma acomodação minimamente digna para quem quer
que fosse. Muito menos para um futuro rei. Seus corações não poderiam estar
menos que apreensivos e inquietos.
Mas
o cuidado de Deus e o socorro que faz aos nossos corações e à nossa fé quando
essa vacila, está grandemente explicitada nessa passagem. Porque a revelação
feita pelo anjo aos pastores que estavam próximos àquela região foi
providencial para a renovação das esperanças de José e de Maria. Sim, porque
não só eles foram informados do nascimento do Messias, mas imediatamente correram
para ver o menino. Eles contaram sobre as palavras do anjo e sobre o louvor das
milícias no céu. Tudo aquilo confirmava a promessa à Maria, que mais uma vez, a
exemplo do que já fizera anteriormente, guardou mais aquele fato em seu
coração, juntando as peças e meditando sobre tudo aquilo.
Duas
coisas podemos destacar nesses seis primeiros exercícios. A primeira e
claramente declarada no texto, é que Lucas entende o reino de Deus como um
reino de pequenos e improváveis começos.
Ele replicará esse conceito em Atos ao descrever os primórdios da igreja. Um
ventre considerado estéril, um homem avançado em idade, uma virgem apenas desposada
e um carpinteiro submisso e sem grandes posses. Um nascimento humilde, em
circunstâncias desfavoráveis. Como alguém imaginaria, sem os olhos da fé, que
alguma coisa grandiosa surgiria daquelas condições? Esses quatro personagens
envolvidos no início do Evangelho foram pessoas de fé e submissão. Mesmo
Zacarias, que por um lapso de tempo titubeou. O reino de Deus se iniciava com
atitudes de devoção e disponibilidade a Deus.
A
segunda coisa que deve ter destaque, é que de certa forma Lucas cria um
paralelo bem apontado entre a história do surgimento do povo de Israel, o povo escolhido de Deus, e a igreja, o povo redimido por Deus; seu novo Israel.
Sim, porque ambos surgem de ventres virgens, de circunstâncias improváveis e
condições impróprias. Também o desenvolvimento de ambos se deu em ambiente de
dispêndio e determinação, de disposição e fé. Não houve, nem no primeiro e nem
no segundo caso, qualquer condição de conforto ou comodidade[4].
Sai da tua casa, e depois, levanta, toma o menino e vai. Nunca foi
simples, nunca foi fácil. Até porque, afirmaria Paulo mais tarde, o poder de
Deus se aperfeiçoa na fraqueza[5].
O
que podemos concluir neste sexto exercício, é que não há circunstância alguma,
por mais incômoda e desfavorável que seja, que impeça o cumprimento da vontade
de Deus. Além disso, seu cuidado e bondade lhe faz sempre atento a nos renovar
as forças e as convicções, para que em confiança e esperança, possamos caminhar
firmes e resolutos, na direção do alvo que nos foi proposto.
[1] Mateus 2:17; 4:14; 12:17
[2]
Os recenseamentos periódicos no Império Romano eram contagens populacionais
realizadas com o propósito de avaliar a população e, frequentemente, para fins
de tributação e recrutamento militar. No contexto do nascimento de Jesus, o
recenseamento decretado por César Augusto tinha os mesmos objetivos: registrar
as pessoas para fins de tributação e controle administrativo. José e Maria
foram a Belém para cumprir esse recenseamento, resultando no nascimento de
Jesus naquela cidade, conforme relatado nos Evangelhos de Lucas e Mateus.
[3]
Os Evangelhos não fornecem detalhes específicos sobre a duração da viagem de
José e Maria até Belém. No entanto, considerando a distância aproximada entre
Nazaré, onde eles viviam, e Belém, que é de cerca de 130-150 quilômetros, e as
condições de viagem da época, que provavelmente teria sido a pé ou em lombo de
animal, estima-se que a jornada poderia ter levado vários dias, talvez até uma
semana ou mais, dependendo das condições da estrada, do clima e da velocidade
de deslocamento.
[4]
Um teólogo relevante que concorda com esse trecho é N.T. Wright, um renomado
estudioso do Novo Testamento. Ele frequentemente aborda a relação entre as
narrativas do Antigo Testamento, especialmente a história de Israel, e o Novo
Testamento, incluindo o papel da igreja como o novo povo de Deus.
Em sua obra
"Surpreendido Pela Esperança: Descobrindo Que o Futuro de Deus Pela
Esperança do Cristianismo Começa Hoje", Wright discute como as narrativas
do Antigo Testamento prefiguram e são cumpridas em Cristo e na comunidade da
igreja. Ele destaca como Lucas, em seu Evangelho e nos Atos dos Apóstolos,
estabelece paralelos entre o povo de Israel e a igreja, mostrando como a
história da salvação de Deus se desenvolve e se expande através dessas duas
comunidades. Wright também enfatiza a ideia de que tanto o antigo Israel quanto
a igreja emergem de circunstâncias improváveis e são moldados pela fé e pela
disposição, em vez de conforto ou comodidade.
[5] 2 Coríntios 12:9