Por
Jânsen Leiros Jr
"41 Ora, seus pais iam todos
os anos a Jerusalém, à festa da páscoa. 42 Quando Jesus completou doze anos, subiram eles segundo o
costume da festa; 43 e, terminados aqueles dias, ao regressarem, ficou o menino
Jesus em Jerusalém sem o saberem seus pais; 44 julgando, porém, que estivesse entre os companheiros de viagem,
andaram caminho de um dia, e o procuravam entre os parentes e conhecidos; 45 e não o achando, voltaram
a Jerusalém em busca dele. 46 E aconteceu que, passados três dias, o acharam no templo,
sentado no meio dos doutores, ouvindo-os, e interrogando-os. 47 E todos os que o ouviam
se admiravam da sua inteligência e das suas respostas. 48 Quando o viram, ficaram
maravilhados, e disse-lhe sua mãe: Filho, por que procedeste assim para
conosco? Eis que teu pai e eu ansiosos te procurávamos. 49 Respondeu-lhes ele: Por
que me procuráveis? Não sabíeis que eu devia estar na casa de meu Pai? 50 Eles, porém, não
entenderam as palavras que lhes dissera. 51 Então, descendo com eles, foi para Nazaré, e era-lhes
sujeito. E sua mãe guardava todas estas coisas em seu coração.
52 E crescia Jesus em
sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e dos homens."
Lucas 2:41-52 - JFA
Esse texto de Lucas é esclarecedor
para uma das especulações mais costumeiras com que a história de Jesus costuma se
deparar: O que fez Jesus desde que nasceu até seus trinta anos aproximadamente,
quando iniciou seu ministério? As teorias são as mais diversificadas possível,
e algumas chegam a ser tão fantásticas, que tentam explicar um mistério, através
de afirmações ainda mais misteriosas em suas possibilidades. Por que há tanta
necessidade em se revelar algo que não faz o menor sentido descobrir, ainda que
não haja absolutamente nada oculto, senão prosaico?
Ora, a infância, adolescência e juventude
de Jesus, pelo que demonstra o texto, fora provavelmente comum a de tantos
outros meninos e rapazes judeus daquela região. Jovem judeu, que auxiliava seu
pai em sua profissão, tinha responsabilidades domésticas auxiliando a mãe, e
brincando, quando possível, com as outras crianças de seu povoado. Sim, porque
o texto apresenta José e Maria rigorosamente disciplinados nos costumes
religiosos, seguindo as tradições de visita anual ao templo de Jerusalém na
ocasião da páscoa, bem como cumprindo a tradição de levar o filho homem ao templo
ao completar seus doze anos de idade, conforme
o costume da festa.
O evangelista registra apenas que
Jesus, obediente a seus pais, cumpriu tudo o que a lei de Moisés determinava. Obviamente
porque em nada poderia ser sua reputação atacada, quanto aquilo em que se
acreditava ser o cumprimento de toda a justiça. Jesus foi circuncidado ao
oitavo dia, apresentado no templo findo o período de purificação de seus pais,
uma vez que era o primogênito, subiu ao templo aos doze anos, e somente iniciou
seu ministério, a partir do momento que sua maioridade o considerava autônomo,
responsável isoladamente por tudo aquilo que dizia e pensava. Totalmente
responsável por si mesmo.
E por que não há qualquer outro
registro desse período de sua vida? Ouso dizer que se deve a não haver nada de
interessante ou relevante nesse período, que pudesse interferir no processo de
redenção da humanidade, ou que ajudasse a conhecer melhor o Filho de Deus. Em
outras palavras, não há registro de nada disso, porque não interessa.
A vida de Jesus nessa época chamada
oculta é tão comum e sem qualquer relevância, que ao fazer seu discurso na
sinagoga, os presentes na sinagoga se admiravam de sua pertinência e tom seguro,
relativamente ao texto do livro sagrado. Não é esse o filho do carpinteiro? Não
vivem entre nós seus irmãos e irmãs? Não o conhecemos desde criança? Ele não
costumava correr por nossas ruas brincando de pic ou de esconde-esconde?
A relevância da juventude de Jesus está
resumida no final do texto que destacamos. E
crescia Jesus em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e dos homens,
versículo 52. Ou seja, ele não foi levado da casa de seus pais para nenhum
lugar especial, cuidado e ensinado por pessoas especiais, ETs, ou membros de
seitas quaisquer. Ele cresceu e amadureceu diante dos olhares comuns de gente
comum. Tendo uma vida comum, com responsabilidades comuns e provavelmente muito
trabalho. Se assim não fosse, Jesus não conheceria tão bem os costumes e o
comportamento religioso de seus compatriotas. Ao dizer ouviste o que foi dito,
ele sabia exatamente em que contexto comportamental e religioso tais afirmações
eram feitas.
Há um destaque curioso dado por Lucas;
crescia em graça diante dos homens. Parece
que Lucas evidencia que Jesus contava com a admiração dos seus circunstantes. Vizinhos
e conhecidos pareciam gostar daquele menino que virou jovem e depois adulto,
diante de seus próprios olhos. Jesus viveu a realidade cotidiana daquela gente,
e isso o fortaleceu em sabedoria e promoveu seu crescimento físico natural. Portanto
Jesus não teve, senão, uma vida comum; então,
descendo com eles, foi para Nazaré, e era-lhes sujeito.
O mais interessante nessa passagem,
contudo, é o susto de Maria e José com o "sumiço" de Jesus. Notem que
eles chegaram a andar caminho de um dia,
até darem conta de que Jesus não estava com eles. Um dia para ir e portanto
mais um para voltar, e eu fico imaginando a apreensão daqueles pais, não tendo
como saber o que poderia ter acontecido com o menino. Um retorno tenso
certamente, pois ainda que o encontrassem logo que chegassem a Jerusalém, Jesus
já teria ficado dois dias sozinhos. Como teria feito para comer? Como teria
feito para dormir? Como deveria estar se sentindo? Afinal, ele havia sido
deixado para trás; sua ausência não foi notada por um dia inteiro.
Um esquecimento desse poderia ter
diversas razões, mas uma é inevitavelmente óbvia. Jesus não foi prioridade do
cuidado nem de José, e nem de Maria. Não vai aqui qualquer juízo de valor
quanto a qualidade do cuidado paterno e materno de ambos. Muito pelo contrário.
Uma viagem de Nazaré a Jerusalém estimada na época em aproximadamente 5 dias, não
era tarefa fácil de se empreender. Muitos preparativos; alimentos e água para o
caminho. Tendas para se abrigarem. Enfim, muitas coisas para serem
providenciadas, e como dizia minha avó, criança
cega a gente. Nessa Jesus ficou e seus pais partiram. Acham que não?
- Onde está Jesus? Não o vejo desde
que partimos. Disse Maria para José, enquanto ajeita a carga sobre o jumento
que os auxiliava no transporte. - Deve estar lá atrás, com os outros meninos. Não
se preocupe, mais tarde quando a fome apertar ele aparecerá. Respondeu José
caminhando e puxando os arreios do mesmo jumento. Imaginem a cena. Alguém aí se
identificou? Não é mesmo assim que fazemos, pais e mães que me leem? Os pais
que jamais travaram um diálogo desses que me atirem a primeira pedra. Assim
isento de culpa tanto Maria quanto José.
Lucas porém nos deixa implícito um
contundente alerta. Quanta gente empreende viagem de uma vida inteira, sem
sequer notarem a falta que Jesus lhes fez? Precisou o cansaço do dia de viagem
chegar, precisou dar a hora do corpo descansar, para que a ausência de Jesus
fosse notada. Quantos, próximos do descanso de seus corpos já cansados,
percebem que caminharam tão longe, e se fatigaram tanto, sem que Jesus tivesse
participado de suas vidas. Sem que o sabor de sua presença lhes renovasse as forças
ou desse sentido a cada passo.
José e Maria, ao perceberem a ausência
de Jesus, consideraram que pudesse estar junto aos companheiros de viagem, e
por fim acreditaram estar entre os parentes e conhecidos. Descansaram na hipótese
de que outros estivessem com Jesus, e que isso seria o bastante para o sucesso
da viagem. Diante da realidade daquele vazio retornaram para busca-lo. Não havia
mais qualquer sentido continuarem aquela empreitada, aquela viagem, sem que
Jesus lhes estivesse em companhia. Era preciso retornar, buscá-lo e acha-lo.
Como chegar em Nazaré sem Jesus? Como dar mais um passo sequer sem o menino?
Por fim o encontraram. Três dias ao
todo sem Jesus, o que prefigurava o tempo que passariam sem ele mais adiante,
entre sua morte e ressurreição. Três dias procurando por alguém que jamais
deveriam ter deixado sair de perto deles. Procuraram ansiosamente como declarou
a própria Maria ao falar com Jesus sobre sua apreensão, certamente em meio a um
misto de alívio e indignação; por que
procedeste assim conosco? Tensa pelo susto, justa aflição, Maria reverte a
responsabilidade pelo que passava e culpa o menino. Ora, quem era o adulto e
quem era a criança? Seria hoje um caso de abandono de incapaz?
Agora observem a resposta de Jesus. Ele
em momento algum se atreve a responder malcriadamente a Maria. Antes ele
demonstra entender a aflição de seus pais e lhes diz por que perderam tempo me procurando por aí? Não seria de se concluir
que só haveria uma única possibilidade, que eu estivesse na casa de meu Pai?
Não haveria outro lugar para se achar Jesus. O templo seria um lugar de
encontros, uma referência para todo e qualquer peregrino. O templo era o lugar
em que perdidos e desencontrados poderiam se achar. Em que outro lugar poderia
estar Jesus, senão na casa de seu Pai? Mais um fato para a lista de
acontecimentos que falavam ao coração de Maria. Penso que essa lista
provavelmente era longa.
Que nossas viagens pela vida, nossas
caminhadas, curtas ou longas, jamais sejam empreendidas sem Jesus. Mas acaso
tal desencontro se dê, que nossos corações sejam impelidos a busca-lo e acha-lo,
para dar sentido à nossa marcha, tanto quanto relevância e sabor. Arrepender-se
é mudar de caminho, é voltar atrás. É recuperar a jornada inglória, é refazer o
caminho sem fim. Não há qualquer vergonha em retornar e buscar Jesus. Pior é
tentar chegar em Nazaré sem ele.







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